Jô Cavalcanti
Partido | Partido Socialismo e Leberdade |
Nascimento | 28/06/1982 |
Jô Cavalcanti é mulher negra e feminista. Mãe de Gabriel, ambulante, militante organizada na luta do comércio informal e coordenadora nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Teto). Cria de Casa Amarela, foi deputada estadual pelas JUNTAS.
Filha de Maria Genilda, doméstica, e de José D’Holanda, feirante de Casa Amarela e mãe de um adolescente chamado Gabriel. Aos 40+, iniciou o curso de direito na UNICAP, sua primeira graduação.
As pautas da sua vida atravessam a sua história. Por ser uma pessoa nascida e criada no morro, a questão da moradia sempre foi presente, pelos conhecidos desafios da vida de quem mora em área de morro, de barreira.
Adulta, Jô foi moradora das palafitas da comunidade dos Coelhos, local onde viveu um dos piores momentos da sua vida quando um incêndio na comunidade a fez perder todos os poucos bens materiais que tinha na época. De um bairro onde cresceu como testemunha e vítima do descaso estatal para o outro onde se tornou estatística do racismo ambiental institucionalizado.
Como alguém que nasceu nessas condições e perdeu a mãe bem cedo, aos 15 anos, trabalhar é uma das poucas alternativas de sobrevivência. Jô já fez de tudo um pouco, desde doméstica a artesã. Mas, foi como camelô que começou a lutar na pauta do reconhecimento do comércio informal enquanto categoria de trabalho, ajudando na construção de lutas sociais no Recife que levaram à fundação do SINTRACI - Sindicato dos/as Trabalhadores/as do Comércio Informal - e, após uma longa trajetória, à construção e entrega dos quiosques padronizados da Conde da Boa Vista.
Nesse período, havia muitas remoções, tanto de trabalhadores, como de comunidades do Recife. Surgiu, então, o CLC, um Coletivo de Luta Comunitária, que atuava na resistência e no acompanhamento jurídico das comunidades e trabalhadoras/es no processo de gentrificação das famílias pobres e, em sua maioria, negras dos espaços da cidade.
Foi nesse processo que Jô percebeu que há pessoas aliadas às suas causas; que não é preciso que ninguém passe pelas mesmas situações para perceber que as coisas não estão justas do jeito que estão.
Todo esse processo de organização e mobilização popular acabou servindo de base para o agrupamento de militantes que fundou o MTST Brasil em Pernambuco. Diante da compreensão de que o movimento de massas é um dos principais instrumentos do país no combate às desigualdades que essa forma de urbanização vem trazendo para a nossa sociedade.
A luta dos trabalhadores e das trabalhadoras sem-teto cresce ao passo que as contradições da nossa sociedade se tornam mais nítidas e o surgimento do movimento no estado, no final de 2015, veio somar na luta por uma cidade mais justa, democrática e com moradia digna para o seu povo. Hoje atuamos em mais de oito territórios do Recife e Olinda, com uma base de mais de 2 mil famílias, lutando por teto, trabalho e pão.
Mas essa luta não para. Foi nesses espaços de construção que Jô se reafirmou enquanto mulher negra e feminista. Entendendo que o papel de resistência, apesar de muitas vezes duro e sofrido (como infelizmente, é o da maioria das mulheres), é o de quem acredita que a mudança nesse mundo racista e misógino só será possível se mulheres negras estiverem à frente conduzindo em nome da justiça social e pelo bem-viver do nosso povo.
Não é só por Jô, não é só pelo filho Gabriel, ou pelo sindicato ou movimento. É por um projeto de sociedade que não se utilize das mesmas práticas nefastas para perpetuar privilégios e na qual sejamos alvo de políticas públicas efetivas e reparatórias e não alvos do braço armado do Estado. Com esse projeto, foi eleita vereadora do Recife com 7.619 votos. Será a única mulher negra a exercer o cargo nesta legislatura.